sexta-feira, 25 de abril de 2014

O "grito" de Roberto Carlos: A polêmica história de amor com Nice.





Quero deixar de lado a atual polêmica envolvendo seu nome com uma conhecida marca de carne bovina uns minutos e partir para a primeira grande controvérsia de sua história como celebridade: sua relação com Cleonice Rossi, mais carinhosamente conhecida como Nice.
Mulher típica da classe média paulistana, Nice era elegante e bem-educada. Nascida em 27 de dezembro de 1940, era desquitada e já tinha uma filha do primeiro casamento: Ana Paula, que mais tarde seria considerada como filha do cantor. Conheceu Roberto Carlos por intermédio do próprio pai e amigo do cantor, o jornalista Edmundo Rossi. Voluntária da LBA (Legião Brasileira de Assistência, que durou até a virada dos anos 1980 para os 90), Nice pediu a Edmundo para conhecer Roberto Carlos em uma das gravações para o programa Jovem Guarda, acompanhando 50 crianças de um orfanato. A atitude da jovem encantou o Rei à primeira vista. Meses depois, em 1966, compôs em um hotel no Recife um clássico do seu repertório que seria sua primeira música dedicada a Nice: Como é Grande o Meu Amor Por Você. No entanto, levou algum tempo para ambos começassem a ter um relacionamento mais sério, em segredo, para não dizer, de forma "clandestina".
O romance com Nice mostrava um lado mais ousado de Roberto Carlos, um homem comumente tímido e fechado. Nos anos 60, artistas considerados ícones da juventude corriam sérios riscos de serem "descartados" pelos fãs e pelos órgãos da imprensa mainstream caso assumissem um namoro ou se casassem. Além do mais, apesar de Nice ser ainda jovem (25 anos), era mais velha que Roberto e, conforme já foi citado aqui, desquitada, o que deixava a situação do casal ainda mais delicada. A excessiva pressão da mídia, da família, amigos e dos fãs e, sobretudo, da sociedade brasileira daquela época,  deixavam os dois sufocados. Neste momento, Roberto compôs uma canção que ganhou vida e corpo na voz de Agnaldo Timóteo, no começo de sua carreira: Meu Grito, gravada em 1967. Fica evidente, nas entrelinhas, que a música fala do sofrimento por amor de uma pessoa que já estava consagrada como super-celebridade e não poderia mais desfrutar de uma "vida normal" como a maioria.

Se eu demoro mais aqui,
Eu vou morrer
Isso é bom
Mas eu não vivo sem você
Eu não penso mais em nada
A não ser só em voltar
Vou depressa e levo o meu amor nas mãos
Para lhe dar
Já não durmo
Morro até só em pensar
E se canto
Só o seu nome quero gritar
Mas se eu grito todo mundo
De repente vai saber
Que eu morro de saudade
E de amor por você
Ai que vontade de gritar
Seu nome bem alto no infinito
Dizer que meu amor é grande
Bem maior do que meu próprio grito
Mas só falo bem baixinho
E não conto pra ninguém
Pra ninguém saber seu nome
Eu grito só meu bem.

Mas só falo bem baixinho
E não conto pra ninguém
Pra ninguém saber seu nome
Eu grito só meu bem.


Em maio de 1968, Roberto cansou de se esconder e decidiu "gritar" bem alto o nome da sua amada. Como no Brasil daquele período ainda não havia "recasamento" civil para pessoas desquitadas, o jeito foi casar-se com Nice na Bolívia no dia 10 do mesmo mês. O assunto virou sensação das principais emissoras de rádio e televisão, que lotaram o salão para a cobertura do evento. O casamento de Roberto Carlos e Nice durou 9 anos, com mais dois filhos e, mesmo com o fim do relacionamento amoroso, os dois continuaram amigos. Cleonice Rossi faleceu aos 49 anos, vítima de câncer, em 6 de maio de 1990. Roberto chegou a declarar, na época da morte de sua primeira esposa, que era a mulher da sua vida. Quer dizer, a primeira grande mulher: casou-se, anos após a separação, com a então atriz Myrian Rios; mais tarde, com Maria Rita. Com sua última esposa, Roberto viveu um Amor Sem Limites, ao contrário dos primeiros anos de seu romance com Nice...
Em tempo: O "grito" do Rei ficou consagrado como um dos maiores sucessos de Agnaldo Timóteo, cantor de perfil também carismático e polêmico.






Texto baseado no post do Blog Roberto Carlos Braga http://www.robertocarlosbraga.com.br/2011/08/nice-os-amores-do-rei.html

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Da "Fantasia" para a realidade: "O Aprendiz de Feiticeiro" e a grande enchente de Recife em 1975.



Muitas crianças e adultos já assistiram, ao menos, a esta sequência da animação Fantasia, de Walt Disney, de 1940. Muita gente confunde o título do desenho com a canção que rege a cena, O Aprendiz de Feiticeiro, composição do francês Paul Dukas (1865-1935). Baseada em um conto do escritor alemão Johann Wolfgang Von Goethe, Der Zauberlehrling, o poema sinfônico feito em 1897 nunca mais deixou de ser associado à superprodução que tinha Mickey Mouse como protagonista que, em diversas situações, "apresentou" as partituras mais conhecidas da música erudita para todas as idades.
 Mas o que O Aprendiz de Feiticeiro tem a ver com a enchente que cobriu 80% do Recife e outras cidades da Região Metropolitana, em julho de 1975?
O documentário, feito por Fernando Oliveira e postado no Youtube por seu neto, Renato, é um verdadeiro achado para quem pesquisa o assunto, já que não há muitos registros filmados sobre o fato das grandes emissoras de TV da época - Globo Nordeste, TV Rádio Clube (afiliada da Tupi) e TV Jornal  - possivelmente por conta da censura do regime militar que ainda impedia de cobrir de forma mais aprofundada e em cadeia nacional tragédias de qualquer causa, seja humana, natural ou mista.




No entanto, há uma comparação pertinente que deve ser feita aqui.
A partir de 3:44 do documentário, o autor, com a ajuda de amigos, sai da sua própria casa de barco em direção à Avenida Quatro de Outubro, que atualmente corresponde a um trecho da Avenida Agamemnon Magalhães, entre os bairros da Boa Vista e do Derby, passando por locais como o hoje bar Portal do Derby, um posto Shell e o prédio da Embratel (que fica no Parque Amorim). Nem o quartel da Polícia Militar de Pernambuco, de arquitetura imponente, foi poupado da força do rio Capibaribe e de seus afluentes. Tal parte da filmagem de Oliveira remete ao momento em que Mickey, após aprontar travessuras com o chapéu de feiticeiro do seu mestre num "sonho", acorda com o salão totalmente inundado e faz de tudo para reverter a situação (a partir de 6:12 do The Sorcerer's Apprentice). Além do mais, a música de fundo utilizada para o "passeio" pelo centro do Recife submerso é o mesmo da animação da Disney: O Aprendiz de Feiticeiro.
Não sei se isto é coincidência ou se foi uma licença poética de Fernando Oliveira sobre a composição de Dukas e do desenho de Walt Disney. Mas que as cenas de ambos os vídeos deixam impressionado quem os assiste pela semelhança, isto é certeza. Absoluta!